O universo das grandes empresas de tecnologia está repleto de anúncios pomposos sobre a revolução da inteligência artificial, mas a verdade por trás das cortinas mostra um cenário bem diferente. Ex-diretora de IA da Microsoft, Gabriela de Queiroz, revela que o uso real da inteligência artificial dentro dessas companhias não corresponde ao que se propaga na mídia. Segundo ela, o discurso das Big Tech sobre o uso intensivo de IA muitas vezes é mais uma jogada de marketing do que uma realidade efetiva nos processos internos.
Durante sua passagem pelo Vale do Silício, Gabriela observou que as grandes empresas dão ênfase ao uso da inteligência artificial em seus produtos para impressionar o público, mas internamente, muitas tarefas administrativas e rotinas ainda são realizadas manualmente. Ela destaca que relatórios financeiros, por exemplo, não são gerados por IA, o que mostra que a implementação prática da tecnologia está longe do que se imagina. Essa disparidade levanta dúvidas sobre a real aplicação da IA no cotidiano corporativo.
A pressão para que todos os funcionários compreendam a inteligência artificial e saibam utilizá-la para aumentar a produtividade é intensa, mas, segundo Gabriela, essa preparação ainda não é suficiente para incorporar a IA de maneira plena nos processos das empresas. A corrida para mostrar qual empresa está mais avançada na criação de produtos baseados em IA acaba se tornando um espetáculo para a mídia, sem que haja uma transformação profunda na prática diária das organizações.
Gabriela também fala da sua experiência pessoal, quando foi desligada da Microsoft durante uma das grandes ondas de demissões, mesmo com sua expertise técnica que vai muito além das capacidades atuais da IA. Essa decisão ilustra o paradoxo do momento: apesar do investimento pesado em inteligência artificial, o fator humano ainda é imprescindível, e a tecnologia ainda está longe de substituir o talento e a experiência dos profissionais especializados.
Um ponto crítico destacado pela ex-diretora é a fragilidade das discussões sobre ética e governança da inteligência artificial nas Big Tech. Enquanto a corrida tecnológica avança a passos largos, os debates sobre limites e responsabilidades ficam em segundo plano, deixando de lado questões fundamentais para a sociedade, como a privacidade, o viés algorítmico e o impacto social dessas ferramentas.
Gabriela alerta ainda para os efeitos da inteligência artificial sobre as novas gerações, que passam a depender excessivamente dessas tecnologias para construir raciocínios e interações sociais. A transformação dos processos cognitivos e relacionais causada pela IA exige atenção e políticas que promovam o equilíbrio entre tecnologia e desenvolvimento humano.
Além disso, ela aponta que temas importantes como diversidade e inclusão têm perdido espaço dentro das grandes empresas de tecnologia, especialmente após mudanças políticas que reduziram o apoio financeiro para iniciativas voltadas a grupos minorizados. O retrocesso nessa área impacta diretamente a cultura organizacional e o desenvolvimento de tecnologias mais justas e inclusivas.
Em resumo, a realidade do uso da inteligência artificial nas Big Tech é menos brilhante do que parece. O que se vê, muitas vezes, é um jogo de aparências, onde o marketing supera a prática, e a verdadeira revolução tecnológica ainda está por vir. A experiência de Gabriela de Queiroz mostra que, para avançar, é necessário repensar não apenas as tecnologias, mas também os valores e as pessoas que as constroem, garantindo um futuro mais ético e equilibrado para a inteligência artificial no mundo corporativo.
Autor: Nikolai Vasiliev